À esquerda, o levantamento hidrológico oficial dos córregos Água Preta e Sumaré que deu subsídio para planos de engenharia e estudos de impacto ambiental. À direita, imagem do “novo mapa” mostra uma hidrografia mais detalhada, inclusive com cursos d’água que não constam nos mapas oficiais.
No final de 2014 foi divulgada a notícia de que as obras do monotrilho da Zona Leste de São Paulo foram paralisadas porque durante a sua execução os engenheiros descobriram a existência do córrego da Mooca, uma das dezenas de corpos d’água retificados, tubulados e enterrados sob o solo paulistano.
Sintomático da pouca importância conferida à base natural da cidade, o episódio faz lembrar que uma vez tamponados, os córregos partilham do mesmo destino que toca às demais infraestruturas urbanas. Se sua transformação acontece com algum planejamento e projeto, depois da execução muito raramente é gerado registro que possa ser consultado com facilidade por outros projetistas (e muito menos pela sociedade como um todo).
No último par de anos, no entanto, a figura da rede hídrica estrutural contida no Plano Diretor do município e políticas públicas pressionando no sentido de que exista mais transparência de informações e participação da população fizeram chegar à luz alguns mapas hidrográficos oficiais.
Embora seja um avanço, tais mapas “resumem” córregos e rios ao seu curso principal e alguns afluentes. O Água Preta, por exemplo, surge com três cursos, quando consultas a mapas antigos revelam que ele tem seis. A situação do vizinho Sumaré é ainda pior: alguns desses mapas subtraíram-lhe seis afluentes, como se existisse apenas o talvegue sob a avenida de mesmo nome.
Quando se debruça sobre o mapa oficial mais detalhado percebemos outro erro: os cursos que sobreviveram à falta de memória comparecem com erros de georreferenciamento. É de arrepiar que tais mapas sejam utilizados sem revisões em estudos de impacto ambiental e até mesmo em relatórios hidrológicos.
O interesse crescente da população pelas águas urbanas também fez aflorar alguns mapeamentos “alternativos”. No entanto, os que foram divulgados até o momento se valem das mesmíssimas bases, apresentando os mesmos erros de georreferenciamento e simplificações.
Este “Novo mapa hidrográfico da cidade de São Paulo” coloca-se como uma outra possibilidade cartográfica: um mapeamento independente e científico que corrigiu os problemas de georreferenciamento presentes na localização dos cursos d’água das bases oficiais e, gradualmente, acrescenta os afluentes que faltavam. Além disso, em caráter pioneiro, indica a localização de bicas e nascentes urbanas.
Quanto à metodologia, são consultadas as bases do levantamento Sara Brasil, de 1930, GEGRAN, de 1971 (ambos disponíveis no site do IGC – Instituto Geográfico Cartográfico), VASP-Cruzeiro do Sul, de 1954, e, no caso do centro antigo da cidade, mapas históricos que vão de 1807 a 1897 (alguns deles disponíveis no site do Arquivo Histórico Municipal). São feitas sobreposições dessas bases com imagens aéreas do Google Earth, visitas à campo para leitura da paisagem, conversas com moradores antigos, pesquisa bibliográfica e, vez ou outra, visitas ao PROJ 004, seção de arquivo das plantas de drenagem e melhoramentos viários, da SIURB (Secretaria Municipal de Infraestruturas e Obras). Para descoberta das nascentes e bicas, além dos recursos descritos, muitas vezes é feita a compartimentação geomorfológica do relevo.
O Novo Mapa Hidrográfico da Cidade de São Paulo é um trabalho em andamento, sem prazo para ser concluído.
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Matéria publicada originalmente no site: HEZBOLAGO.